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Archive for the ‘Histórias diversas =]’ Category

Final (in)feliz

July 13, 2011 3 comments

Nota: apesar dessa história conter elementos reais, ela é um conto fictício. Os fatos aqui relatados nunca aconteceram, eu nunca fiz um curso de roteiro e o tal “Pedro” não existe, ele foi baseado em uma outra pessoa que não se chama Pedro.

Eu andava na rua a caminho de casa, cantando como sempre e tentando me equilibrar no meio fio, feliz da vida. Músicas me deixam feliz.

Cheguei em casa, ainda cantarolando, e ao entrar reparei que havia um carro estranho na garagem, e me perguntei quem seria.”Deve ser um dos clientes da minha irmã” – eu pensei, pois a minha irmã tem uma doceria chamada “Calou” – Ótima por sinal, recomendo (www.calou.com.br) – que faz doces e bolos para casamentos e afins, então volta e meia vem alguém em casa fazer alguma degustação.

Entrei em casa e passei pela sala de visitas, aonde me deparei com pessoas conversando amigavelmente. No caso: minha mãe, uma mulher estranha e gordinha com uma cara simpática e…ELE. A última pessoa que eu queria ver na face do mundo inteiro.

Eis que minha mãe fala: “filha, esta é a Mercedes, minha amiga de faculdade, e este é o filho dela, o…

“Pedro” – eu interrompo, chocada. – “Eu sei.”

– Vocês se conhecem? – pergunta surpresa a mulher chamada Mercedes

– Sim – diz Pedro – Nós fizemos aquele curso de roteiro juntos.

– É.. – eu digo, sem conseguir disfarçar minha insatisfação por vê-lo – Infelizmente.

Quando dona Mercedes estava prestes a perguntar porquê e Pedro prestes a fazer alguma objeção, eu virei as costas e subi as escadas em direção ao meu quarto.

Pedro corre atrás de mim e eu tento escapar, mas tarde demais. Logo que eu entro em meu quarto ele agarra meu braço e pergunta “Como assim infelizmente?”

– Nada, Pedro, esquece.

– Agora você vai me explicar.

– Você quer uma explicação? Ok então, infelizmente sim, porque o que eu mais desejo no mundo é que eu nunca tivesse te conhecido. Minha vida seria muito mais fácil.

Ele tentou se aproximar de mim e eu fui andando para trás, até a hora que eu encostei na parede e não tive mais saída a não ser tentar afastá-lo, empurrando-o. Ele me prensou na parede com seu corpo maior e mais forte do que o meu e, segurando meus braços, falou:

– O que você mais deseja no mundo sou eu.

E me beijou de um jeito que só ele sabe. E fez eu me entregar de um jeito que eu só sei me entregar para ele. E de repente esqueci toda a raiva e todos os motivos para nunca mais querer vê-lo na vida e a única coisa que importava era aquele momento, só nós dois e mais ninguém.

E que saudades eu senti daquilo.

Quem se importa que no dia seguinte eu iria me arrepender? Quem se importa com todo o tempo que eu passei tentando esquecer? Quem se importa com qualquer coisa além dele?

Eu ainda não estou estava preparada para dizer não.

Platonismos

May 3, 2011 2 comments

Rapidamente, ela sai do trabalho, esperando que dê tempo de chegar, tempo de pegar o mesmo ônibus de todos os dias.

Ali está ele! Vermelho como sempre, vazio, esperando ansiosamente por seus passageiros, esperando que eles entrem, passem pela catraca, sentem e embarquem em mais uma jornada até os seus destinos.

Ela entra e senta naquela cadeira mais alta, aquela que ela senta todos os dias, sabendo que ninguém vai sentar ao seu lado, pelo menos por ora.

O próximo ponto está chegando. Ela arruma o cabelo, se apruma na cadeira, faz cara de bonita e se sente idiota. Então ela encosta a cabeça no vidro e fecha os olhos, esperando…o gigante vermelho para. Abre a porta (tttssss)..barulho de catraca (plim, plim, plim)…fecha a porta (tttssss). E ela ainda de olhos fechados.

“Será que eu abro?”- ela pensa. Abre. Do seu lado há uma jovem moça que ela já viu antes algumas vezes, conhecida por falar alto no telefone durante o percurso inteiro. Ela fica triste, decepcionada ou até revoltada por nunca ter muita sorte.

Ao som misturado de Alien Ant Farm, Buckcherry, Death Cab For Cutie, The Rocket Summer, entre muitos outros, ela dorme para acordar perto de sua parada. Chegou.

Levanta e vai em direção a porta do ônibus, localizada logo atrás de sua habitual cadeira alta. Se espreme daqui, se espreme de lá, pede licença e seus olhos verdes vão de encontro com outros olhos da mesma cor: os dele.

Lá está ele, conversando animadamente com outra menina, aquela que conseguiu sentar do seu lado.

CIÚMES.

Os olhos dele se encontram com os dela e ele para de falar, atônito, e finge estar prestando atenção na menina bonitinha, mas meio-sem-graça, que ele estava conversando.

Os olhos dela dizem: você é um babaca. Os dele dizem: eu preferia que ela fosse você. Os olhos dela sorriem com uma renovada esperança e falam: quem sabe amanhã, então? Os dele consentem.

Ela sai do ônibus com um sorriso bobo na cara, pensando na infinidade de sentimentos que uma pessoa é capaz de sentir em apenas alguns segundos.

Quem sabe…amanhã.

Só mais um texto inútil.

March 31, 2009 Leave a comment

PUTA DA VIDA.

 

Esse é um adjetivo mais do que cabível para ilustrar o humor dela de hoje. Achei válido. Além de ela estar puta da vida, ela não sabe por que está puta da vida e isso a deixa mais puta da vida ainda. Entende?

É um daqueles dias como muitos outros, daqueles que seria melhor ela não ter saído da cama. Um dia inútil que ela percebe que só faz coisa inútil e que tudo o que ela faz também é inútil para outras pessoas inúteis. Inútil, não?

 

O que mais a intriga é que hoje aconteceram coisas boas. Por exemplo, hoje ela conheceu uma pessoa que ela se deu super bem. Tá ok, não é muuuuito difícil ela se dar super bem com alguém, mas ela se deu super bem acima da média, então isso a deixou feliz. Outra coisa: ela voltou para casa em tempo recorde! O ônibus vazio, e ela chegou em sua casa em meia hora, isso nunca tinha acontecido! Seria motivo pra ficar feliz pro resto do mês, mas não. Não ficou.

 

Chegou em casa, e aquela mesma coisa inútil de sempre. Comida (tentativa de burritos no pão de forma). Banho (cansada de tomar o mesmo banho igual todo dia, acho que ela pensa em começar a mudar a ordem, passar condicionador antes do xampoo pra acabar com essa rotina ridícula). Livro. (Até o coitado do livro não se salvou hoje de sua implicância).

 

Nada pra ver na TV. Comeu um suspiro. Não ficou com vontade de comer outro. Foi brincar com os cães, mas levou uma mordida e sangrou o dedo. Foi lavar. Não voltou mais. Ouviu música, mas enjoou de todas. Odeia seu MSN e o suspiro e tudo mais. Ninguém com quem falar. Nada pra fazer. De novo, PUTA DA VIDA.

 

Deita, com sono, e não dorme. Por quê? Porque esta com taquicardia. E por que o coração incomoda tanto? Porque está puta da vida! E porque está puta da vida? Não sabe dizer! Ela gostaria de chorar e não consegue. Não ajuda muito. Será que é porque hoje a temakeria estava em reforma? Duvido. Será que é porque ela não gosta muito do seu trabalho? Se fosse por isso ela ficaria assim todos os dias de sua vida.

 

Mas hoje o céu não estava bonito como nos outros dias, e o vento na cara não a agradou tanto. A mala pareceu mais pesada do que nunca, apesar de ter menos coisa do que o normal. E a menina que gosta de fingir que anda de montanha russa no ônibus sentou de cara emburrada e não sorriu para o motorista.

Paixões, histórias, insanidades mentais, religiões..entre outras coisas.

December 22, 2008 Leave a comment

Dizem que a primeira paixão a gente nunca esquece, mas esqueceram de mencionar que ela não precisa necessariamente ser um alguém. Eu nem lembro mais quem foi minha primeira paixão, se foi meu primeiro namorado, ou o meu primeiro beijo ou até aquele menino bonitinho que sentava ao meu lado no pré.

A primeira vez que eu me apaixonei não foi por uma pessoa. Não foi por um lugar, por um objeto, nem por um animal. A primeira vez que eu me apaixonei foi por uma história.

Se eu me lembro bem, foi no dia 2 de dezembro de 2001, eu tinha 12 anos. Eu tinha um forte preconceito contra a história, todo mundo sempre falava disso, mas eu nem queria saber, sempre odiei “modinha”. Pensava que fosse ser uma moda passageira, mas o que aconteceu foi que nesse dia minha vida mudou, o dia em que eu fui ver o filme daquela tal história que eu ainda não conhecia.

Esse filme era Harry Potter.

Depois que eu assisti ao filme, eu me senti diferente (não, eu não descobri que era bruxa). Não conseguia parar de pensar nisso, e naquela noite, e em todas as noites depois dessa, eu sonhei com aquele novo mundo durante horas. No dia seguinte, eu fui ao cinema vê-lo de novo.

Os dois dias que se passaram foram muito estranhos para mim. Eu estava vivendo em um mundo totalmente novo, que eu ansiava por conhecer, desejava do fundo do coração que existisse, mas que eu sabia não existir. Eu nunca me iludi tanto ao ponto de acreditar realmente que aquilo era verdade, que existia toda aquela história de bruxos e bruxas, mas se alguém naquele momento desejava que isso acontecesse, aquele alguém era eu.

Confusa e imatura como eu era (ou sou), acabei me confundindo. Eu sentia algo forte dentro de mim, algo poderoso, e aquilo só poderia ser amor. O alvo do amor é que foi o erro, eu pensei estar apaixonada por Daniel Radcliffe, o ator que faz o Harry Potter nos filmes.

Eu sempre achei ridículas essas meninas que veneram os artistas, que choram por eles, que vão aos shows, desmaiam de emoção e etc, não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, mas é incrível como sempre conseguimos arranjar desculpas para nós mesmo nesses momentos, então eu decidi que aquilo era algo diferente das outras pessoas e assim me permiti fazer o mesmo.

Os próximos dois meses foram os mais surreais da minha vida. Por um lado, eu estava de férias, minhas primeiras férias com meus pais separados, com o novo namorado da minha mãe e com a minha irmã namorando sério pela primeira vez. Eu me sentia sozinha, triste e injustiçada. Por outro lado, eu não estava nem um pouco sozinha, eu tinha o Danny comigo.

Ok, aqui é a parte que todo mundo fica sabendo o grau de loucura que esta pessoa que aqui vos fala possui.

Eu nunca tive amigos imaginários, ou melhor, nunca tive amigos realmenteimaginários, porque eles sempre existiram. Não era ninguém que eu inventei e acreditava que estava ali, era sempre algum colega de classe ou alguém que eu desejava conhecer melhor, então eu simplesmente inventava que a pessoa estava ali comigo e passava horas conversando com ela. E eu não sei por que este parágrafo inteiro foi no passado sendo que eu faço isso até hoje.

É fácil imaginar que tem alguém com você e que você conversa com a pessoa, o difícil é conciliar o real com o imaginário, e eu sou praticamente profissional nisso, quer dizer, se tivesse um campeonato de conciliação real-imaginário eu seria a campeã mundial certeza.

Campeonatos imaginários à parte, já não é difícil adivinhar como eu passei os dois meses seguintes. O Danny era meu companheiro, ele ia ao shopping comigo, ele lia comigo, ficava no computador comigo, e quando eu fui passar um mês na praia, ele foi comigo. Além disso, ele conversava com a minha mãe, com o namorado dela, íamos ao mar juntos, saíamos de casa pra tomar sorvete juntos, ficávamos horas no quarto conversando escutando a mesma música francesa sem parar.

Além disso, eu chorava. Eu chorava todos os dias por causa dele, ele era a minha única alegria e ainda assim eu tinha que me conformar com o fato de que ele não existia. É claro que ele existia, mas lá longe, na Inglaterra, e na verdade o Daniel que eu conhecia não era o Daniel de verdade, era inventado, então mesmo se eu o conhecesse pessoalmente não seria a mesma coisa, porque não teria mesma a personalidade que eu dei a ele. Eu queria o Danny imaginário.

Agora imagina a situação das pessoas ao meu redor. Uma menina de 12 anos, que passava horas sozinha sem dizer nada a ninguém, e mesmo quando estava com as outras pessoas não parecia prestar a menor atenção em nada. Passava os dias lendo todos os livros do Harry Potter e quando não estava lendo estava escutando aquela maldita música francesa do Rufus Wainwright no quarto. Estava de férias e mesmo assim preferia ficar em casa olhando pro teto do que sair com as amigas pra ir ao shopping ou dormir em suas casas.

Qualquer pessoa que me conhecesse me tomaria por uma menina triste, provavelmente traumatizada pela separação dos pais ou algo assim, mas a verdade é que eu estava feliz, e feliz como nunca. Minha mãe sempre achou que a culpa fosse dos ciúmes que eu supostamente sentia do namorado dela, mas pra ser bem sincera eu nunca senti um pingo de ciúmes, eu realmente gostava dele e queria vê-los juntos, mesmo ela me falando que eu “não tinha coração” e que eu era egoísta demais de não querer que ela fosse feliz.

Ah mãe, se você ao menos soubesse o que se passava em meu coração! Mas eu ia falar o que pra ela? “Ah não mãe, relaxa, eu estou assim esquisita porque eu estou apaixonada pelo meu amigo imaginário!” Aí era pedir pra ser internada num manicômio.

Como eu estava sofrendo por uma coisa que eu mesma criei? Podem me chamar de louca, mas eu realmente me diverti naquelas férias, nem que fosse com um amor imaginário/comigo mesma.

Para a melhoria de minha sanidade mental, esse amor só durou até o início das aulas, quando um menino novo entrou na escola. Eu, já cansada de viver em dois mundos, dei graças ao bom senhor.

Desde lá, eu mudei muito em muitos aspectos e nem tanto em outros (amigos imaginários aí vou eu), e não sei nada sobre o Daniel a não ser dos recentes boatos de seu suspeito homossexualismo, que ele atua nu numa peça da Broadway chamada Equus e que ele quer parar de fumar e não consegue. Incrível pensar que aquele menininho de bochechas salientes de 2001 hoje em dia já é um homem crescido.

Com o passar dos anos eu fui acompanhando toda a saga Harry Potter fielmente. Nunca me vesti de aluna de Hogwarts e fiquei horas na fila do cinema pra ser a primeira a entrar, também não participei de campeonatos nas livrarias pra ver quem termina de ler o livro primeiro, essas coisas me dão um pouco de vergonha alheia. Mas mesmo assim, continuei fascinada pelos livros como ninguém, do meu próprio jeito.

Toda aquela euforia que eu senti na primeira vez que eu vi o filme eu ainda sinto, sendo com os filmes, com os livros ou a simples menção do nome Harry Potter. Se alguém começa a falar de Harry Potter eu sou a primeira a começar a discutir e me empolgo como em nenhum outro assunto.

Depois de muito tempo eu percebi que não tinha me apaixonado por uma pessoa, e sim por uma história. Se tiver que me apaixonar por alguém, que seja a J.K.Rowling, porque a mulher é sensacional, ela simplesmente despertou em mim o gosto pela leitura. Se não fosse por ela, eu não sei se teria o hábito de ler livros hoje em dia, se não fosse por ela, eu não sei se eu teria o sonho de me tornar escritora.

Essa mulher mudou não só a minha vida como provavelmente a de milhares de pessoas. Ela não criou só um herói, um personagem que todos nós gostaríamos de ser, ela criou uma sociedade inteira, com regras, leis, personalidades e personagens ímpares. Se há alguém que eu admiro no mundo esse alguém é ela com certeza.

Além disso, ela criou uma geração nova, uma geração de crianças que cresceram ouvindo suas histórias, e que como ela, acreditam no amor, na amizade e na lealdade acima de tudo. Crianças que como eu, foram tocadas lá no fundo de seus corações por uma história fantástica que todos nós amamos e respeitamos, crianças que acreditam em magia, não naquela magia das varinhas de condão, mas na magia que o amor pode trazer às nossas vidas.

Eu já li cada livro pelos menos umas 3 ou 4 vezes e simplesmente não me canso de lê-los toda vez. Sendo eu uma pessoa que canso rapidamente das coisas, isso é realmente um fato inédito.

A idéia inicial deste texto era escrever sobre o poder dos livros e comparar Harry Potter a Jesus. Sim, porque eu acredito que a Bíblia é uma história e que todo mundo acredita nela simplesmente porque foi a primeira a surgir, já dizia Al Ries. Mas como eu tenho uma habilidade incrível para mudar o foco das coisas, o tema inicial só vai ser discutido agora, na quarta página de texto do Word.

Algum dia uma pessoa extraordinariamente dotada de inteligência teve a idéia de escrever uma história sobre o salvador da humanidade e outras pessoas também dotadas de genialidade viram nessa história uma oportunidade imensa de persuadir as massas, e a Bíblia era o método ideal.

Jesus, um homem simples, de família pobre, tem uma missão na vida que é salvar a humanidade. O moço era bondoso, piedoso, perdoava até as prostitutas e os traidores, e, além disso, faz milagres nas horas vagas. Quem não gostaria de acreditar em uma pessoa assim? Eu gostaria, eu juro que eu gostaria, mas há um caminho extenso entre querer que uma história seja verdade e acreditar que ela realmente é.

Durante muitos anos eu lutei contra meu sentimento de negação perante a Igreja. Eu pensava que algo de ruim iria acontecer comigo se eu admitisse que eu não conseguia acreditar em tudo aquilo, eu tinha medo. Mas já faz muito tempo que eu consegui admitir a mim mesma que sinceramente eu não consigo acreditar, e agora eu admito para quem quiser ouvir também.

Não me leve a mal, eu acho muito bonito muitas coisas que a Igreja faz, tipo caridade, creches, essas coisas, o clima da Igreja, pelo menos a que eu costumava freqüentar, era muito bom. Eu gosto de ir à missa, porque eu gosto da mensagem da Bíblia, de amor, de solidariedade, bondade e perdão, ela é a melhor mensagem de todos os tempos. Mas eu acredito em Jesus tanto quanto eu acredito em Harry Potter ou no Oliver Twist, personagens incríveis que eu realmente queria que existissem, mas que na verdade não existem.

Como diz meu querido ex-namorado, “minha religião é o amor”, e eu realmente acredito nisso. Não me interessa nenhuma religião, não me interessa nem se Deus existe. Se há amor no meio, amor de qualquer tipo, bondade e vontade de melhorar as coisas, eu aprovo. E é exatamente por isso que eu não pertenço a nenhuma religião específica, porque em sua maioria, suas verdadeiras ambições não têm nada a ver com o amor.

Nesse aspecto as religiões orientais são uma ótima saída, mas apesar de eu querer acreditar que temos que atingir o Nirvana ou que vários deuses existam e devo adorá-los, eu me apresento um tanto quanto cética nessas questões.

Sim, eu já perdi o tema central do texto. Eu não sei se é sobre histórias, sobre religiões, sobre insanidades mentais, sobre a J.K.Rowling ou simplesmente sobre nada.

Eu acho que no fundo tudo se resume a crenças. Seja a crença no poder de uma história, no poder de religiões, no poder do amor e da lealdade ou no ceticismo nosso de cada dia.

É também sobre encontrar uma paixão, daquelas que te arrepiam só de pensar. Não importa se é uma pessoa, um objeto, um sentimento ou um lugar, uma paixão que é sua sempre vai ser algo que só você pode sentir, e ninguém mais.

O importante é acreditar. Em qualquer coisa, nem que seja em um lenço de papel sujo, um pedaço de placenta, uma estante de livros velha ou no imperialismo. Não importa o que te faz acordar todos os dias, mas pelo menos, arranje um motivo para sair da cama.

Mundo do Sono

November 11, 2008 Leave a comment

Existe um lugar para onde todos nós vamos todos os dias, um lugar chamado Sono.

Todo mundo sabe o que é o Sono, como ele acontece e suas conseqüências, mas ninguém sabe para onde realmente vamos quando estamos dormindo.

Muitos falam em Sono REM, Sono NREM, estágios 1, 2 3 e 4, etc etc, mas como saber para onde vai a nossa consciência nesse tempo?

Foi aí que eu decidi fazer a Viagem do Sono, para descobrir todos os mistérios que rodeiam as nossas noites.

Os preparativos da viagem eram simples: eu só teria que flagrar uma pessoa quase dormindo e me agarrar à sua alma, para que ela me levasse junto rumo ao nosso destino, então foi isso o que fiz.

Com muita cautela, esperei silenciosamente Camila, minha irmã dormir. Era muito importante que ela não soubesse o que eu estava tramando, se não era capaz que ela não conseguisse dormir profundamente. Quando a sua respiração começou a ficar mais pesada, percebi que essa era a hora, então cuidadosamente me prendi à alma dela e partimos em nossa jornada.

Confesso que tudo o que vi foi totalmente inesperado, e peço-lhes para não contar meus relatos a ninguém. Não sei o que aconteceria se muitas pessoas ficassem se agarrando às almas das outras para ir para o mundo do Sono, ele não foi feito para corpos de carne e osso.

Quando partimos, fomos direto para cima, em direção ao espaço. Fiquei com medo de ficar sem ar, de me soltar e cair, mas logo deu para ver que não era o espaço de verdade, era um outro tipo de espaço, e percebi também que se eu me soltasse nada aconteceria comigo, pois havia uma espécie de campo em volta de nós que não nos deixava mudar de direção.

Esse tal de campo nos deixou em uma pequena nuvem. Obviamente vocês devem estar pensando “Nuvem? No espaço?” Mas como eu disse antes, esse espaço era diferente, ele tinha nuvens. Ao chegarmos à nuvem, Camila começou a se mover de um modo estranho, e então percebi o que ela estava fazendo, ela estava comendo a nuvem enquanto dormia! Achei muito esquisito, mas entrei no clima e dei uma pequena mordida também. Ao morder, um grande espanto! Não era nuvem coisa nenhuma, se tratava de um gigantesco algodão doce! Parece que a tarefa era comê-lo, então ajudei ela a comer.

Quando só faltava o pedaço de algodão em que estávamos sentados, eu fiquei em dúvida se deveria comê-lo ou não, afinal, cairíamos, mas Camila parecia não apresentar dúvida nenhuma, e comeu o pedaço restante de algodão que nos segurava.

Imediatamente caímos, e continuamos caindo por mais ou menos 30 segundos, até atingirmos um grande mar. No mar, havia milhares de pessoas boiando, assim como nós, e me dei conta de que deveriam ser todas as pessoas que estavam dormindo no momento.

Em meio aos corpos flutuantes, havia barcos pequenos, como canoas, e dentro se encontravam os Sentinelas Azuis. Eram homens belos, altos e fortes, e pareciam ter um único propósito: vigiar. Quando reparei melhor, vi que eles levavam consigo arco e flechas, mas não sabia o porquê.

Foi então que eu vi. O sentinela ao nosso lado começou a atirar em uma criatura enorme. Não consegui ver exatamente do que se tratava, mas vi algo assustador, parecido com um rabo gigante, como de um dragão. Esses bichos assustadores estavam puxando algumas pessoas aleatoriamente para o fundo do mar, e fiquei com medo que me puxassem também.

Enfim chegamos à terra firme, sãos e salvos. Olhei ao redor e vi milhares de ilhas iguais a ilha em que nós nos encontrávamos, cada uma com um grande farol no centro. Também não havia plantas, somente areia, e milhares de pessoas deitadas, distribuídas cuidadosamente pela superfície. Ao redor das ilhas existiam mulheres, todas vestidas de branco e com um olho só no centro da testa. A visão era grotescamente bonita, eu não sabia se sentia atração ou repulsa pelas moças de branco.

De repente, um daqueles seres do mar veio em direção à ilha e atacou uma das mulheres. Agora eu podia ver que não se tratavam de dragões, mas de algo que eu nunca tinha visto antes. Ele tinha corpo de enguia, porém com patas, e rabo de dragão. Sua cabeça era o mais assombroso de tudo, tinha feições de tigre, e consistência de peixe pedra.

Um grupo de mais ou menos dez moças de branco se juntou para combater o tal monstro e de seus olhos saiu uma luz fortíssima, tão forte que demorou alguns minutos para que eu pudesse enxergar novamente, e quando pude ver, o monstro tinha ido embora.

Enquanto eu ainda me recuperava do susto, escutei uma voz me chamando: “psiu, ei, psiu”. Virei-me para ver o que era e dei de cara com um anão muito velho e fui em sua direção.

O velho anão se chamava Norberto, e ele me explicou tudo sobre aquele mundo. Eu perguntei sobre os vigilantes azuis, as vigilantes brancas de um olho só, os monstros do mar e tudo mais. Ele me disse que os Sentinelas Azuis protegiam o mar dos monstros e as Sentinelas Brancas protegiam a terra dos monstros, porque eles também podiam andar na terra.

Até aí eu já fazia um idéia que eles serviam para isso, mas não podia imaginar o que acontecia com as pessoas que eram pegas pelos monstros, então ele me disse que aquelas que eram pegas, eram levadas para um lugar chamado Abismo do Pesadelo.

O Abismo do Pesadelo não é nada mais nada menos do que um lugar para se ter pesadelos. Isso quer dizer que quando uma pessoa começa a ter um sonho ruim é porque um desses monstros a pegou e levou-a para o abismo, e a tarefa dos vigilantes era assegurar que as pessoas tivessem sonhos bons.

Mas às vezes não era preciso ser pego por um dos bichos para ter pesadelo. O Norberto me contou que quando as pessoas vão dormir muito pesadas, com muitas preocupações, elas acabam afundando sozinhas.

Aquele lugar era realmente bonito, seria um bom lugar para viver. Mas então o velho anão me disse que lá era impossível para pessoas normais dormirem, e que ele não dormia há anos. Ele já nem fazia idéia há quanto tempo ele chegou na ilha, mas ele tinha noção de que envelhecera muito mais rápido do que o normal, foi como se tivesse envelhecido décadas em pouquíssimo tempo. E também me contou que na verdade ele nunca fora um anão, mas que acabou encolhendo naquele lugar.

Na mais lógica obviedade, perguntei por que ele não voltava para o nosso mundo, e ele me disse que no dia em que chegou, se maravilhou tanto com o lugar que se esqueceu de voltar, perdendo a pessoa com que veio para sempre. Acontece que uma vez amarrado à alma de uma pessoa, só se pode voltar pela mesma pessoa, e desde que ele se perdeu, ele tenta achar suas amarras, mas são tantas pessoas que nunca conseguiu.

Depois da nossa conversa, me despedi e tratei de achar minha irmã rapidinho, e no momento que eu a achei, ela estava começando a flutuar novamente em direção ao mar. Me senti muito aliviada de ter chegado a tempo, mas quando fui me agarrar a ela de novo, algo me puxou para trás. Era Norberto. Ele não queria que eu fosse embora, fazia muito tempo que ele não conversava e nem via ninguém desperto.

Em meio ao meu desespero para me soltar de Norberto, um dos monstros esquisitos pulou da água para a terra, diretamente em cima do anão. Rapidamente me agarrei a Camila e vi o anão sendo arrastado para o fundo de relance, e depois luzes muito brancas.

Ceguei por um instante.

A próxima coisa que vi foi o teto do quarto de minha irmã e minha irmã, sã e salva, ao meu lado.

Ela acordou e me perguntou se estava tudo bem, pois não sabia o motivo de eu estar no quarto dela tão tarde da noite. Eu dei qualquer desculpa e me voltei para meu quarto, não acreditando no que acabara de acontecer comigo.

Olhei para o relógio e só tinham se passado 18 minutos desde que havia olhado pela última vez.

Passei as próximas duas horas acordada repassando em minha mente tudo o que tinha visto. Pensei em Camila, agora dormindo de novo, e podia imaginar exatamente onde ela estava agora. E pensar que ela não fazia a menor idéia da onde eu havia estado, e da aventura que passamos juntos naquela noite.

De repente fiquei com medo de nunca mais conseguir dormir de novo, como Norberto, mas era só um medo bobo, logo eu dormi.

No dia seguinte, ao recordar de meus sonhos, percebi que não tinha tido nenhum pesadelo.

Aparentemente, os Sentinelas andam fazendo um ótimo trabalho no Mundo do Sono.